quinta-feira, 31 de março de 2016

Gabriela Biló / Estadão
A imagem da imensa quantidade de lama chegando ao mar vinda do desastre de Mariana, a cor de uma área imensa de oceano sendo alterada por um incidente a centenas de quilômetros me pareceu adequada para abrir este tema: Valoração de Danos ao Meio Ambiente

Quando se pensa em preservação do meio ambiente na economia, em especial na produção industrial e agrícola e mineração, fala-se de uma internalização de custos ambientais. Estes custos são chamados na língua dos economistas de "externalidades", isto porque são considerados subprodutos da sua produção, que, caso não aja regulação adequada, não vão ser computados nos custos da empresa e vão ser pagos pela sociedade. Os custos ambientais são muitas vezes imensuráveis, pois apesar de ser fácil de calcular o gasto extra que uma empresa tem em seu processo produtivo para evitar uma determinada poluição ambiental é, em geral, muito difícil de se computar com exatidão qual teria sido o custo para o meio ambiente caso este gasto não tivesse ocorrido (veja o caso de Mariana). Isto porque o custo de um impacto ambiental não é medido apenas financeiramente, a vida não pode ser traduzida apenas em dinheiro, além disso os custos financeiros para sociedade oriundos da degradação ambiental difundem-se de modo muitas vezes imprevisíveis. 

Por outro lado os gastos que uma empresa tem para realizar a conservação do meio ambiente, seja otimizando o seu processo produtivo, gerenciando os seus resíduos ou monitorando os seus riscos,  geram “bens” que serão repassados para toda a sociedade. Estes também são externalidades, mas desta vez positivas. O problema é que do mesmo modo que o negativo, se não houver regulação, não haverá necessariamente, um retorno financeiro imediato dos benefícios usufruídos pela sociedade (ou seja, não geram lucro), embora na maioria dos casos este retorno ocorra, por vezes de modo incalculável. O tributo (redução de impostos, incentivos, etc.) orientado de modo a privilegiar aquele que sustenta processos produtivos benéficos ao meio ambiente é apenas um exemplo de modo de tratar com igualdade aquele que já contribuiu com a sociedade e aquele que contribuiu apenas com seu próprio lucro. Casos não aja nenhum benefício para o que teve um custo maior com a conservação da natureza, estaríamos favorecendo o produtor menos consciente a ter menor custo e maior lucro, podendo tornar-se mais competitivo e ter um favorecimento econômico.
Vale relembrar que no Brasil, e em muitas partes do mundo, a maior parte da sociedade incluindo aquela detentora de maior poder financeiro não tem uma mentalidade de proteção ambiental como a proteção de um bem essencial a vida a ponto de abrir mão de parte de seu ganho financeiro de modo a possibilitar que os recursos naturais sejam preservados. Ainda vivemos em uma sociedade pautada pela ideia do retorno financeiro para qualquer gasto, ou seja, ainda se entende que o único retorno realmente louvável de um investimento financeiro é mais dinheiro.

Este tema tem muito o que ser discutido, tentarei falar mais sobre ele em breve.
 
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sexta-feira, 25 de março de 2016



Severn Suzuki, uma garota canadense de apenas doze anos, foi uma das oradoras da conferência ambiental Eco92. Apesar de soar intrigante e pouco provável, a garota discursou na presença de líderes de estado de diversas partes do globo, representando a E.C.O., Enviromental Children Organization (Organização de Crianças pelo meio ambiente), organização composta por crianças ativistas ambientais de 12 e 13 anos do Canadá. O discurso acabou por se tornar um dos pontos mais altos da conferência. Diversas pessoas em todo o mundo assistem as filmagens de seu discurso até hoje, sendo, com certeza, a parte mais lembrada da Eco92. O vídeo virou símbolo de ativismo ambiental, muitas pessoas nem sequer o relacionam à conferência em que ele ocorreu, o que mostra que o tocante discurso tornou-se, por si só, um marco da luta e conscientização ambiental.

Um fato conclusivo do discurso de Severn, é que seu sucesso foi tão acentuado devido à época em que ele ocorreu. Atualmente a temática abordada pela jovem Suzuki são palavras já bem difundidas na sociedade. Ouvimos elas em documentários, em reportagens, em campanhas e em outros discursos. Estamos em uma época em que a área ambiental é discutida em diversos contextos, e em todo o mundo. Em diversas classes sociais, e diversas etnias. Hoje em dia vemos o discurso ambiental sendo incorporado até mesmo em leis que abrangem o nosso cotidiano, como no caso da proibição das sacolas plásticas em comércios. Porém em 1992, o discurso ambiental era ainda embrionário, poucas pessoas estavam engajadas na causa ambiental, muitas por falta de conhecimento. Pensar sobre impactos ambientais causados pelo homem era ainda algo estranho para uma fatia muito maior da sociedade, que nos tempos atuais. Ainda mais estranho era relacioná-los com problemas sociais. E foi por isso que o discurso eloquente de Severn comoveu o mundo todo, iniciando uma nova era de discussões ambientais e até mesmo sociais.

Independente das motivações reais que possibilitaram o discurso, este teve uma clara e eficiente estruturação. Sendo caracterizado principalmente pela sua linguagem simples, compatível com o discurso de uma criança, mas sem deixar de ser organizado e estruturado o suficiente para alcançar diversos grupos. Questões inerentes às motivações do discurso são inevitavelmente levantadas. Será que a Jovem Suzuki, filha de um dos membros organizadores da conferência, estava realmente dizendo palavras de sua própria “voz”? ou estaria sendo usada como um instrumento? Parece impossível ou pelo menos muito improvável que uma criança de treze anos tenha motivações políticas eu até mesmo mesquinhas para realizar um discurso nestas dimensões. O modo eloquente e bem programado ao usar entonações da menina demonstrou um preparo prévio. Mas, qualquer pessoa com pouco experiência em discursos, muito provavelmente recorreria a um treinamento antes de expor-se ao público. Isto não afirma ou anula a possibilidade de o discurso não ter surgido em sua integridade de sua própria mente. Mas, também nos leva a pensar, será que isto realmente importa? O mundo parou para ouvir o que uma criança tinha para dizer, a pureza de uma criança que queria mudar o mundo. E mudou. Tornando-o um pouquinho mais aberto para o sonhado diálogo sócio-ambiental.

O discurso de Severn que inicialmente tinha como proposta representar um grupo de crianças acabou fazendo muito mais. Suas palavras ousadas representando de certa forma todas as crianças do mundo, trazendo a ideia de um mundo sob os olhos de criança trouxeram um apelo contrastando a visão otimista da criança de favela do Rio disposta a compartilhar com as outras mesmo aquilo que apenas sonha em ter, com a atitude dos adultos que fazem exatamente o contrário do que ensinam para as crianças desde os seus primeiros anos de vida. Quando ela enfatiza que os adultos ensinam as crianças a serem comportados, a não brigar, resolver as coisas bem, respeitar os outros, arrumar a bagunça, a compartilhar e não ser mesquinho, etc. Enquanto que eles fazem o oposto. O tom de revolta dá ao público uma ideia de resolução interna de quem está apaixonada pela causa. Vindo de uma criança confere grande poder de persuasão.

Em suma, independente de qualquer acusação, ou crítica feita ao discurso da garota, nada é forte o suficiente para negar a verdade contida em seu discurso. Principalmente quando após a exposição de todos os apelos, desgostos e sonhos ela conclui com a frase: “Permita que suas ações reflita as suas palavras.” Concretizando com palavras o sonho de todo o verdadeiro ativista, ambiental ou social. As palavras de Suzuki, não foram em vão. E mesmo hoje 20 anos depois ainda não estando nós em um mundo perfeito, todos sabemos que amadurecemos em discussão ambiental. E que a discussão é o primeiro passo para a mudança. Em 1992 uma garota sem conhecimentos científicos pôde influenciar um mundo de pouca base ambiental. O que podemos fazer hoje num mundo mais amadurecido se usarmos conhecimento científico atual? Só nós mesmos, com ações podemos responder a esta pergunta.

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quinta-feira, 17 de março de 2016

Olá boa tarde a todos,
aproveito o feriado, para fazer uma postagem no meu blog, coisa que não faço a muito tempo. É engraçado o número de blogs que vemos na internet que acabam por "morrer" você vê uma postagem interessante e informativa mas logo descobre que foi feita há 5 anos atrás, e foi a última. Acho que algumas pessoas devem ter tido uma sensação parecida ao consultar o meu blog em algum momento. Enfim, espero desta vez não deixar o Biocaminhos cair no esquecimento.

Mas agora vamos ao tema desta postagem!

Muitas vezes quando estudamos sobre a Mata Atlântica nos deparamos com a divisão da mesma em fisionomias, ou seja os diferentes tipos de vegetação que a compõe e nos deparamos com termos como Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Estacional Semidecidual, etc. Considero que para quem é estudante de Biologia, Geografia, Eng. Florestal, ou qualquer outro curso que envolva de alguma forma conhecimentos sobre vegetação nativa, entender um pouco sobre estes conceitos é muito importante, principalmente para aqueles que tem sua área de atuação sobre a de abrangência do Domínio Mata Atlântica. Obviamente é um conhecimento interessante também para quem não é da área.
A Mata Atlântica
Não vou me ater a detalhes técnicos muito aprofundados, para tal recomendo o Livro: Ecologia e História Natural da Mata Atlântica de Athaíde Tonhasca Jr. e também o Mapa de Vegetação do Brasil do IBGE (pode ser baixado gratuitamente clicando aqui: clicando aqui). Mesmo assim, antes de mais nada, acho que é interessante entendermos um conceito: Mata Atlântica a grosso modo, é a formação florestal que recobre (ou recobria originalmente) a faixa leste do Brasil a partir do Oceano Atlântico, passando pela Serra do Mar e chegando em alguns pontos até o Oeste do Paraguai. Latitudinalmente ela se estende desde o Norte do Rio Grande do Sul, até o Nordeste (na faixa litorânea). No entanto o nome Mata Atlântica e é uma aglutinação de diversas fisionomias (tipos de vegetação) diferentes, e esse nome tem mais relevância legal e conservacionista do que mesmo científica, uma vez que um bioma é diferente do outro. A seguir vou discutir um pouquinho sobre as principais fisionomias para que possamos esclarecer resumidamente estes conceitos.

A Floresta Ombrófila Densa

ombrós vem do grego e significa "chuva", logo, em resumo, Floresta Ombrófila signica floresta onde há alta incidência de chuvas, basicamente esta fisionomia é a que recobre basicamente a Serra do Mar, em praticamente toda a região litorânea do Nordeste ao norte do Rio Grande do Sul, subindo até uma altitude de 1000m Serra acima. A serra funciona como um paredão para a umidade advinda do mar, ao bater nesta a umidade vai subindo até se resfriar e precipitar na forma de chuva e neblina (este tipo de chuva é conhecido como chuva orográfica), isto faz com que tanto o ar quanto o solo sejam muito úmidos. Aliados a boa incidência de sol acaba por ser a floresta mais frondosa do domínio, com maior diversidade, árvores de maior porte, a que mais se assemelha à Floresta Amazônica de Terra Firme. É composta por uma vegetação densa e bem diversificada, apresentando além de árvores de grande porte vegetação mais rasteira e grande quantidade de epífitas (orquídeas, bromélias, etc.) e lianas (trapadeiras com "tronco"). Para alguns esta é a Mata Atlântica "propriamente dita". Uma boa representação dela é a imagem da abertura da postagem (Foto: Heris Luiz Cordeiro Rocha, Wikimedia Commons ).

Floresta Estacional Semidecidual

Exemplo de Floresta Estacional Semidecidual (Foto de: Phillip Capper, Wikimedia Commons)

Localizada no planalto brasileiro em área de altitude média de 600m em relação ao nível do mar. A Barreira formada pelo conjunto de serras localizadas próximo a região litorânea (citada anteriormente como responsável pelo adensamento da Floresta Ombrófila) retêm a umidade vindo do oceano, restringindo a quantidade de chuva a oeste da serra. Este menor volume de água aliado à uma menor temperatura causada pela maior altitude, leva a uma floresta com uma estação seca bem definida ao longo do ano. A estação seca ocorre geralmente entre Abril e Setembro, ou seja, na época do inverno. como consequência desta falta de água, de 20 a 50% das árvores neste bioma perdem as folhas no inverno para evitar perda de água pelas folhas. Podemos entender, então o nome desta fisionomia: Estacional, devido as estações mais definidas e semidecidual devido a perda parcial de folhas no inverno (decídua = planta que perde as folhas em um período de seca.). Sua vegetação é também exuberante com dossel superior que pode atingir entre 20 e 30 metros de altura e muitas epífitas, no entanto possui uma riqueza de espécie e porte de vegetação menor que o da Floresta Ombrófila. A área de ocorrência original desta fisionomia é boa parte dos planaltos da região sudeste, estendendo-se para boa parte do Oeste do Paraná, e ainda um pouco do Mato Grosso do Sul e Goiás. No entanto, hoje, por tratar-se de região muito utilizado para agricultura encontra-se praticamente eliminada restando somente alguns fragmentos.

Em breve atualizarei a postagem com as outras fisionomias, continue acompanhando!
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